quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O dia mais longo

Foi ontem, e por incrível que pareça, não começou de manhazinha com o trânsito, nem com o trânsito de regresso que me fez chegar ao pé dele mais de uma hora depois de ter saído do trabalho. Começou eram 17h55 com um telefonema daquele número que na sua ausência eu não quero ver... (educadora), queria saber se eu estava perto, o Martim tinha caído e batido com a cabeça e estava a sangrar, queriam levá-lo ao médico mas estavam á espera do motorista da escola. Como estava a 5 minutos, pesei o pé e cheguei lá em menos de nada. Mal entro na sala, convencida que era uma ferida daquelas a que já estou habituada, e que eu própria já resolvo, vejo-o ao colo da educadora e rapidamente percebo que se calhar é algo mais... A batinha e a roupa com sangue....e logo eu que sou sensível a este pormenor, e mal o destapada, um golpe fundo na testa... Ok manter a calma, afinal eles está bem disposto e não merece a pena alarmá-lo.

Saio da escola e começa o dilema, e aqui presto a minha homenagem e agradecimento sincero aos grevistas, que por sua causa encontrei, o centro de saúde fechado, clínicas sem enfermeiros e tudo isto sempre com o miúdo a sangrar. Numa clínica lá apanhámos uma enfermeira que em pânico nos diz que não se vai livrar de pontos, mas que precisa de ser visto rápido por um médico para fazer um raio X. Conselho, em dia de greve, rumar a um hospital privado em Setúbal (ir para Lisboa era simplesmente uma missão impossível.

Quem me conhece sabe que o Martim não frequenta médicos no serviço público de saúde, por nenhuma razão em especial, simplesmente, porque não precisa, e na verdade os boatos são tantos que de facto, nem sei a que posto pertence. (de SNS só uma má experiencia no Algarve).

Chegados a Setúbal, fazemos a sua inscrição e apresso-me a dizer que ele está a sangrar e que o acidente tinha acontecido antes das 18h (na altura eram 19h25), claro que a administrativa ouviu e nem reteve.. Passados 40 minutos sem nem o chamarem para uma triagem, informo que não quero aguardar mais, e lá me empurram para imagiologia (esta parte ele adorou, só achou nojento o resultado da foto, :) ). Munidos do raiox, lá somos atendidos por uma médica, que embora não seja pediatra é a quem tem mais jeito para coisa (informação do serviço), de facto, era amorosa, mas... mandou-nos por gelo e descansar....gelo, então e o sangue que ele tem a trespassar o penso que está ali só a fazer vista?!?! "Tem de ser suturado", dizem os Drs Fradique "Ahh não sei quem vai fazê-lo, eu não sou concerteza, mas vamos ao SO".
Assim que entramos no SO percebo que a coisa não vai mesmo correr bem, uma enfermeira diz-nos para o deitamos "ali" numa marquesa com aquelas coberturas de papel usada, não percebi se a ideia era sermos nós a mudar o descartável, mas um olhar reprovador do papá e uma pergunta retórica da mamã serviram para que cada um fizesse o que lhe competia, e lá tentámos a custo deitar o Martim,e, aí começamos a perceber que não estamos na ala de pediatria, estamos simplesmente no SO, onde é tudo á molhada (perdoem-me a expressão), adultos e crianças não há diferenciação... Volvidos uns 5 minutos aparece o médico, e a enfermeira apressa-se a dizer que primeiro está uma senhora que acabou medicação e depois o Martim,(?!), o mesmo Martim que continuava a sangrar da testa, como pedi prioridade o médico virou-se para nós, e, mais o vez o Dr Fradique perguntou se por acaso queria espreitar a ferida (convém perguntar não fosse impressionar), "pode ser" e mais uma vez, fez-se silêncio, questionámos qual ia ser o procedimento a adoptar, e perante... silêncio, concluimos sutura "ah pode ser, mas têm de o segurar porque vai doer" (confesso que se no momento surgisse um balão de pensamento no médico a mensagem seria algo do género  "hmm não deve ser diferente de quando suturei o porco na faculdade", eu, parvinha, ainda pergunto se não é com anestesia, mas o médico tranquilizou-me "sim, mas isso ainda vai doer mais", ainda voltei a tranquilizá-lo que o meu filho estava bem e no entanto, bem mais novo já tinha tirado sangue, não havia de ser diferente..., o médico lá se convenceu que era dia de costura, e nisto vejo a enfermeira em pânico a dizer que não o fazia, e que tinha de esperar 30minutos para vir outra profissional... Claramente por se tratar de uma criança.
Nessa altura, baixou em mim a leoa que sou, na defesa da minha cria, e disse-lhe que não ia tolerar esse tipo de comportamento, que estava num hospital privado e não aceitava esperar nem mais um minuto, pegámos no Martim e já deseperados rumámos ao Garcia de Orta (obrigada Sofia pelo carinho e paciência).

Assim que chegámos ao hospital, pedi desculpa por estar tão desesperada mas eram 21horas, o meu filho tinha caido e estava a sangrar há mais de 3h e ninguém me fazia nada... E aqui percebo que pela boca morre o peixe. Eu que nunca deixei que o Martim fosse atendido no SNS, encontrei ali o melhor atendimento que uma mãe podia querer para o seu filho. Desde a entrada á saída, todos com quem nos cruzámos foram de uma cordialidade e gentileza que é de louvar. Mesmo a enfermeira que lhe fez a triagem, e que estava de greve mas no cumprimento de serviços mínimos, atendeu-o da forma que todos nós merecemos ser tratados. Felizmente, e linhas e agulhas, passámos para cola, e a coisa deu-se..

 Ele esteve o tempo bem, calmo e tranquilo, e não chorou uma única vez, mereceu os maiores elogios... Só eu passei dos piores dias da minha vida, a sensação de impotência para ajudar o meu filho é devastadora, mas nada que uma noite bem dormida (Que espero que seja hoje) não cure...

Os grevistas têm tanto direito á greve, como eu e o meu filho temos á nossa segurança e cuidados de saúde... mas isto é tudo uma questão de mentalidades, e por isso, as imagens são o que se vê...

Á escolinha agradeço o carinho e preocupação, em particular á educadora, que foi uma querida e esteve sempre em contacto connosco até ao desfecho da história (eram perto das 23h...).



3 comentários:

Magda disse...

Eu acho a pediatria do HGO maravilhosa. Só não fazem mais porque sao poucos profissionais para tantos doentes...

Bjs

As minhas africanisses disse...

Olha sou sincera...já ouvi história muito más do público, mas ouvi histórias ainda piores do privado. Sempre ouvi isto "se for urgencia mesmo a serio, vai ao publico". e sempre fiz isso, pes partidos (e tu sabes que sou perita) publico, se for consultas e assim privado. E faço o mesmo às minhas meninas. As melhoras para o Tim

Ana - a side of me disse...

Há casos e casos. Tive um colega que desmaiou aqui no trabalho e foi enviado para o HGO e foi "esquecido" lá. Inconsciente, qd o chamavam ele n respondia e então deixaram-se estar, pensaram que se tinha ido embora. Depois qd chegou um familiar é que reparou que ainda não tinha sido chamado e fez "barulho" até que foi atendido.
Mas lá está. Cada caso é um caso e ainda bem que o Martim foi bem tratado.

As melhoras e um beijinho grande.