domingo, 25 de novembro de 2012

O menino que Gaspar não conhece

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Supermercado do centro comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe, acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez: leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante. "


By Nicolau Santos in Expresso


Só hoje li este texto, ou devo chamá-lo relato e fez-me pensar e muito..

Se por um lado, existem muitos meninos como este, que cada vez mais vão sendo privados de algo que já fazia parte do seu quotidiano, por outro, ainda se vê, que há um longo caminho de consciencialização a percorrer. Temos de ter consciência de que estamos mal, e que as mudanças são fundamentais, pois no final, só quem se adapta vai sobreviver....

Seja como for, fiquei com uma lágrima no canto do olho...

1 comentário:

Matahari disse...

Cada vez acontece mais. Familias que anteriormente eram consideradas classe média ou média alta, habituadas a um certo padrão de vida e a não ter que controlar o que gastavam em alguns tipos de compras (alimentação e outros bens de supermercado e mesmo roupa) vêem-se agora com dificuldade em fazer estas contas e a contorlar o que não é mesmo essêncial.
É triste ver o nosso país passar por este empobrecicimento!